JOY — masculinidades, relações e solidão #DESAFIOLEIAMULHERES

Chocolatte com café
4 min readFeb 1, 2020

--

O perfil @_leiamulheres lançou o desafio em 2019, confesso que tentei, porém a fome leitora por outras aventuras não permitiu kkk. Este ano, 2020, resolvi investir no meu hábito de leitura de uma forma mais ‘organizada’ e tentar seguir a tag \o/

Para o mês de janeiro, a tag #leiamulheres escolheu uma HQ. Olhei para estante e pensei nos shoujos que não li, porém foi o yaoi que chamou a minha atenção. Nada melhor que desafiar-se lendo uma demografia desconhecida.

Vamos lá…

A leitura de JOY aconteceu de forma rápida, despretensiosa e única. Com uma narrativa fluída e focada no indivíduo, o mangá traz as venturas e desventuras de Go Okazaki como mangaká de shoujos sob o pseudônimo feminino Ponko Tsuda. Desafiado por sua editora, Okazaki começa a escrever o seu primeiro mangá yaoi/BL e é apresentado a Yusuke que será seu assistente nessa empreitada. Com o tempo de parceria de trabalho, Go Okazaki enfrenta dificuldades para criar uma narrativa sobre um casal homossexual. Para entrar no universo, Go tem a ideia de viver um amor platônico por Yusuke. Só que, como em todo clichê presente em muitos mangás, Okazaki se apaixona de fato pelo assistente que é assumidamente gay.

Como leitora de shoujos o enredo de JOY é um clássico da demografia. Temos a fase da descoberta, da negação e, enfim, aceitação dos sentimentos. Contudo, a maneira que Etsuko constrói os personagens é singular. Ainda que seja um oneshot — volume único –, a narrativa apresenta camadas em seus personagens. Enquanto temos um homem consciente de suas escolhas e ainda no começo da carreira — Yusuke, do outro lado da ponta temos Go — um mangaká experiente e desfrutando de suas primeiras conquistas profissionais, porém totalmente perdido sobre a sua identidade e motivações. Num plot folhetinesco, Go e Yusuke estariam separados pela relação de trabalho. Aí é que Etsuko usa da construção do personagem e suas relações para desenhar uma narrativa em que o foco é o amadurecimento de Go.

Go Okazaki é um homem sensível que se esconde atrás de um pseudônimo feminino para escrever mangás de romance, sofre com a solidão e a sensação de abandono. Com medo de expor os seus sentimentos e machucar-se, esconde-se por trás máscara de que ‘tá tudo bem’.

A medida que a narrativa avança, mais conhecemos Go e suas inseguranças. Os personagens de apoio — Editora Hiri, Hibiki (amizade colorida de Yusuke) e Chifumi (amiga de infância de Go) — são pontos de conflito pontuais que levam a desabrochar ainda mais a dor de uma masculinidade tóxica que é imposta aos meninos. Através dos recursos de flashbacks, Go revela suas dores. Nessa exposição, as relações construídas ao longo da vida foram marcadas por ausências, negativas, introspecção e medo de ser quem é.

Em todo o mangá, Go, ao contrário de Yusuke, não se assume homossexual. O que me levou ao questionamento sobre a ideia de masculinidade construída ao longo da vida do personagem.

De acordo com a ARANHA (2010) e PEREIRA (2018) é nesse ponto que o YAOI faz mediações com o universo feminino. Além de ser um sub-gênero do shoujo, FERNANDES (2010), a construção da narrativa aporta pontos sobre as questões de gênero relacionadas às limitações que a mulher sofre na sociedade machista. Num movimento contrário, Go é um homem que sente medo de expor a sua sensibilidade, enquanto a mulher tolhida é levada demonstrar uma fragilidade como traço de gênero socialmente construído. Como alguém que não consome produções BL (audiovisuais, textuais e imagéticas), essa característica foi muito clara durante a leitura.

Ao mesmo tempo que era possível enxergar uma crítica a construção do ethos masculino, a mulher se identifica com a coação de expor o seu próprio eu além das convenções sociais e de gênero. Ao aceitar seus sentimentos por Yusuke e estar bem em não ser correspondido, a primeira vista, Go mostra o seu primeiro passo em busca da livre expressão do seu verdadeiro eu.

DADOS TÉCNICOS

Título original/nacional: Joy (ジョイ)

Autora: Etsuko

Serialização no Japão: Honey Milk

Editora original: Kodansha

Editora Brasileira: NewPOP

Nº de volumes no Japão: 1

Nº de volumes no Brasil: 1

Publicado no Japão em: 15/01/2018

Publicado no Brasil em: Janeiro de 2019

Formato: 12,1 x 18,7 cm

Miolo: Papel offset

Preço: R$ 18,00

*FONTE: BBM

A capa é tão linda que gostaria de ter capacidade técnica suficiente para defender de todas as formas possíveis o quão bonita ela é. Gostaria de parabenizar a Editora New Pop pela edição e opção por usar a capa da edição japonesa. Muito bom gosto ❤ Em tempo, apenas faço uma ressalva para um melhor cuidado com a quarta capa. Senti falta de uma diagramação que acompanhasse a beleza. Fonte, trabalho com as imagens e tals. #FicaDica

--

--

Chocolatte com café
Chocolatte com café

Written by Chocolatte com café

Por aqui pretendo escrever sobre o que leio (livros e hqs), vejo (filmes, animações e kdramas) e ouço (muita música com um gosto eclético). Eu, Irla Costa.

No responses yet