No more sad songs: o que fazer quando a dor chega ao entretenimento?
Estamos no final do ano e pela lógica das pautas dos blogs de resenhas, a ideia seria trazer posts com os melhores do ano ou listas a partir do que curti. Porém, parece que o universo mandou um recado, além do comum, e estamos aqui falando sobre: saúde mental.
Na última segunda, 14, a cantora e integrante do Little Mix, Jesy Nelson, anunciou a sua saída do girlgroup. Ainda que não tenha tomado de TOTAL surpresa os fãs, a notícia não foi recebida da melhor forma. Abalados, o fandom inundou as redes sociais com palavras de conforto à cantora. Inclusive, tornou-se praticamente um viral trechos do documentário de Jesy no qual relata as ofensas que recebeu ao longo dos 9 anos de carreira.
É importante lembrar que no início do ano, o grupo se apresentou no Brasil e outra integrante mostrou a sua fragilidade ao ser acolhida e amada como uma popstar deve ser. Legh-Anne é negra. Tal característica diz muito sobre quando afirmou, nas redes sociais, que “sempre se sentiu a menos favorita do grupo”.
Como nada na vida é por acaso, a notícia da saída da Jesy me deixou, também, pensativa sobre o quanto podemos ser maldosos uns com os outros. Isso mesmo NÓS. Escondidas atrás de milhares de contas, que seguem o perfil da celebridade, estão pessoas que na mesma medida devotam amor, outros estão ali só para despejar amargura. As palavras carregadas de negatividade tiraram Jesy do palco. Levaram Legh-Anne às lágrimas. Tiraram vários idols do kpop de cena…em definitivo.
Ainda que seu suspiro pareça sem animo para os outros, eu sei que o seu dia foi tão complicado, que está sendo difícil pra você até mesmo respirar. Não pense em mais nada, inspire profundamente e expire (Breathe, composta por JongHyun).
Atrás das roupas deslumbrantes, da altivez no palco, prêmios, festas incríveis e todo o glamour, temos jovens que passam dias sem ver suas pessoas queridas, longe do conforto de seu lar e sozinhos. Meninas e meninos com sonhos e projetos profissionais que envolvem metas comerciais com milhões de zeros. O que estamos fazendo com nossos jovens ídolos?
A indústria do entretenimento é cruel. E isso é uma unanimidade. Porém como consumidores que tanto clamam por posicionamentos progressistas, ética e visão plural, estamos fazendo o quê… como fãs? Na sede por lançamentos, números, views, posições, prêmios e toda sorte de ‘reconhecimento’, agimos como uma massa desgovernada que entrega exatamente o que o capital quer: consumo descontrolado e metas cada vez mais inalcançáveis (a todos) que leva à exaustão.
Onde a última tendência é depressão
Com aparência de férias (Emicida em AmarElo)
No kpop, os idols costumam afirmar que gostam de ouvir “You did it well” (você fez bem, em tradução livre). Podemos interpretar como um pedido de reconhecimento (ou até mesmo de socorro) pelo trabalho desempenhado. Contudo, muitas vezes recebem ódio, comentários maldosos sobre sua aparência, desrespeito ao seu trabalho, as suas escolhas. Por que?
Nesta relação comercial e afetuosa, fãs e haters dividem o mesmo espaço (e quem sabe também o mesmo corpo?). A relação de poder que ORIENTA o mercado, também sobrecarrega o artista. Seja em sua vida particular, como na profissional.
Enquanto consumidores de cultura pop, cada vez mais engajados e ‘críticos’ do nosso papel na cadeia de consumo, temos o poder de decisão e mudar essa perspectiva. Se quisermos. Afinal, com ela pode vir a saída do idol do chart ou o cancelamento da esperada tour mundial. Em compensação, teremos artistas fortes e saudáveis.
Depois de inúmeras noites de sofrimento, finalmente entendi. Sou muito precioso para ficar sentado e me preocupar. Dê uma olhada dentro do seu coração, sem capa, está tudo bem em ser você mesmo. (Holo, LeeHi)